Bom feeling

Comprei uma casita num belo e pacato condomínio, ali para os lados da baixa. Tudo calmo, tranquilo, o cheiro a novo e o cheiro a felicidade.

A primeira noite correu bem. Acordei com uma voz lá fora a cantar: "Bom feeling, bom feeling yeh yeh yeh." Fui à varanda e todos os vizinhos dançavam enquanto tomavam o pequeno-almoço. Entrado no espírito, lá fui buscar uma caneca de leite e um pão, e com a boca cheia cantei também: "Bom feelinng, bom feeling yeh yeh yeh."

Na manhã seguinte, o cenário repetiu-se, pontualmente às 8:00 da manhã. No dia a seguir também, e no outro, no outro, saindo eu da cama apressada em roupa interior, para não ficar de fora do espírito matinal. Ao fim de duas semanas, já me custava muito levantar e as cantorias começavam a tornar-se um pouco irritantes.

Já não ia com a mesma alegria, levava o pão na boca e sujava a varanda de leite ao tentar dançar cheia de sono. Passado um mês, a negrita continuava a abrir a sua varanda às 8:00 da manhã e lá ia ela: "Deixa a janela do sorriso abeeerta, coisa boa, boa coisa despertaaa, dá-me um Bom feeeling, bom feeeling yeh yeh yeh [...]" - e às tantas ouve-se uma voz muito alta: "Cala-te, fecha a porra da janela."

No dia a seguir o mesmo. Ela abre a janela, começa a entoar a canção e ouve-se: "Cala-te porra.. já não te podemos ouvir."

A manhã seguinte: "Caluda senão atiro-te com a caneca à cabeça.."

Entretanto, começo a tomar o gosto, de puder acordar às horas que quiser e não ter de ir à janela em roupa interior fazer figuras tristes.